quarta-feira, 17 de abril de 2024

Quando um corpo
Tomba
E a vida
Expira
O horror é 
Relembrar
Que a morte
Há de chegar
No meio do banho
No pão ainda sem manteiga
Na chamada não atendida
Na pressa pro trabalho
Num fim de semana solitário 
Na louça suja da pia

Quando a morte bate
E abate
Só nos resta olhar para a vida
E retomá-la do ponto de dormência 
Reanimar, despertar para o que
Realmente importa. 


Foi bom te conhecer, Mafê.

Qual é o sopro
Que anima
Seu ser
Pela manhã?

sexta-feira, 22 de março de 2024

Quando dói
E me manter firme 
É impossível 
Eu me rasgo
Em mil pedaços 
Me esfarrapo
Até encontrar
A linha central
Que insiste em pulsar

Recolho meus trapos
E com cada tecido roto
Endireito a urdidura
Me refaço em tramas sortidas
Dos despedaços

Sou novo tecido
Amasso, sim,
Mas sou resiliente
E a cada vez que me rasgar
Me coso, me remendo, me refaço.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Se já mar
Seja amar
Seja mar
Se já amar.
A graça de trabalhar
num retalho e que
nenhum tecido virgem
pode alcançar
Poema lírico
Desafio
Do lixo
Ao luxo
Das delicadezas
Que pretendo
Com minhas mãos.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Quando se sentir perdida,
sem saber qual caminho tomar,
recorda de onde veio
e em casa estará.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Me conhecer morte
Me reconhecer cíclica
Abortar o que não viceja
Transmutar o que limita

Acontecer fatal
O inexorável da existência 
Expansiva vida
Jorra e transfigura-se.



Eu digitei "me conhecer melhor" em uma autoanálise, mas o corretor mudou para "me conhecer morte", então, nasceu esse poeminho, que resume a autoanálise e os acontecimentos derradeiros.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Tudo em suspensão por aqui
Tudo paira...
Tenho desatado meus nós
Tudo abranda
Engendra
Do escuro fundo da terra
Coragem
Para romper a casca
E brotar.

domingo, 10 de setembro de 2023

Embolada
Delicada rede
Seda
No meu corpo nu
Regato
Flutuo
C'alma
Nessas águas cristalinas
Deslizo
Deleito
Nessa corredeira
Viver é arte
Lúdica
Única
Volúpia estar viva
Céu azul
Sutilezas
De uma tarde de domingo...
Laranja doce
Única na mesa
Sustenta sua forte presença 
Voz-bálsamo
Santa dos escuros
De mim
Encarnada-encantada
Descarada poesia
Que varre os véus da noite
Emputece as maldições 
Sujas madrugadas
Clareadas por teu grito
Teus ritos
O tambor que compassa
Meu coração
Lua mansa
É minha sorte
Tua vida, criança.


Para Juçara Marçal

sábado, 2 de setembro de 2023

Angústia
Será que eu existo?
Sinto tudo demais
Tudo é caso de vida
E morte 

Se sinto tanto
Seria sentimento
Puro a voar
Como folha ao vento

Biruta abandonada
Num mundo pós-apocalíptico 
Sem um peito
Para habitar

Explosão 
Angústia
É tudo que sinto
Como estado padrão

O resto é um sopro
Esforço
Artificial
Não existir é glacial.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A verdade
É que ando em frangalhos
Farrapos e fiapos

Fazendo das tripas
Coração 
Como dizem

A solidão 
Da experiência humana
Pode ser desoladora

Como as fibras da minha carne
Que se esfacela
Diante do inexorável tempo
Ou meus distintos desejos
Borrados pelas angústias
De agora

Há momentos em que
As palavras
Se tornam vazias
Nada dão conta
De exprimir
O horror
A dor
O cansaço...

Já não vivo;
Remendo a pele esgarçada 
Da minha vontade
Costuro um dia no outro
Bordados por intempéries
Alinhavados pela frágil linha
Da valentia

Meus brocados se arrebentam
Uma a uma,
Escorrem pelo chão
Todas as contas
- ou seriam meus planos de vida?

Sigo tecendo um lado
Enquanto desfaço outro.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Uma foto é muito mais
Do que se vê enquadrado
É preciso mais do que atenção
para imaginar o que os olhos
tentaram captar

É preciso respeito
Ao contemplar o paraíso alheio
E delicadeza para perceber
O sagrado no ordinário.